Thursday, August 31, 2006

Crónica (e não crítica): Noites Ritual Rock 2006

Dia 26:

O festival ainda não tinha acabado e já estava nostálgica só de pensar que era o segundo e último dia da 15ª edição das Noites Ritual. Novamente, a organização foi extremamente pontual e já estavam muitas mais pessoas no recinto, em comparação ao dia anterior. Deu-se, então, início à Represent! Noite Hip Hop, no palco ritual, no qual as quatro vertentes do Hip-Hop foram exploradas: Graffiti por Third e Noir (que estiveram a tarde toda e pela noite dentro a pintar), breakdance pelos conhecidos Gaiolin Roots, deejaying pelo dj Pasta e mceeing por Ace, Maze, Porte e Gatos do Beko. O DJ Pasta que convence só os adeptos mais recentes do Hip-Hop deixou muito a desejar e a noite foi muito morna no palco ritual. Inicialmente todo o público se centrou no Graffiti e mal olhou para o palco. As músicas eram maioritariamente dos Estados Unidos, as mais batidas em discotecas e cafés, tipicamente da moda, e não animaram os presentes. Os writers foram fantásticos e acabou por ser o ponto mais positivo do palco secundário.

Seguiu-se, no palco principal, o Quinteto Tati que proporciou viagens mentais intensas e poéticas. Foi rápido, mas marcante e, sem dúvida, um dos melhores concertos da noite. Em 40 minutos a banda seduziu os presentes, e JP Simões, uma figura singular no panorama musical português, com o seu sentido de humor cativou-os ainda mais. Este quinteto de seis elementos transmitiu a sua mensagem através de letras na língua materna e o espectáculo foi intimista, profundo, umbilical. "Suor e Fantasia", "Valsa Quase Antidepressiva", "Carta Tardia" não deixaram o público indiferente. Até Adolfo Luxúria Canibal que ia actuar ainda nesse dia no Swing estava encantado e imbuído nas canções e na voz ondulante e sedutora. O grupo é liderado por J.P. Simões e Sérgio Costa, músicos dos "Belle Chase Hotel", que trazem a público valsas, rumbas, boleros e outros estilos, nos quais a palavra é o centro de todas as atenções. A postura em palco de J.P. Simões emana uma sensualidade fenomenal que se alia na perfeição com a sonoridade da banda. O CD "Exílio" é, indubitavelmente, um álbum a ter em conta, assim como os próximos espectáculos do Quinteto Tati.

A ver: http://www.youtube.com/watch?v=Va98ZiSIASY

Novamente, mais uma meia horinha de Hip-Hop no palco secundário. Recorde-se que já em 2000 e 2004 tinha havido iniciativas semelhantes a esta da Represent!

Na parte superior do festival, actuaram os Pop Dell' Arte. As expectativas eram altas para a banda que já conta com bastantes aninhos e que, recentemente, fez a 1ª parte do espectáculo dos escoceses Belle & Sebastian, no Coliseu dos Recreios. O concerto foi bom, mas, depois da intensidade de Quinteto Tati, houve alguma coisa que falhou. Não me perguntem o quê. Valeu a pena mas eram três bandas muito fortes para uma noite só. E ainda vinha Blasted Mechanism.

Na Concha Acústica, depois duma boa exibição de Maze (Dealema), terminou a noite para os apreciadores deste género musical. As casas de banho já se enchiam, as barraquinhas da sagres começavam a esvaziar e... Entraram os Blasted Mechanism para mais um grande concerto, com uma imagem forte e extravagante que já os caracteriza. Um rock alternativo que se conjuga com influências orientais, instrumentos pouco utilizados, fatos de um mundo intergaláctico, dum universo próprio, inventado pelos músicos Karkov (voz), Valdjiu (bambuleco, guitarra), Ary (baixo), Syncron (bateria), Winga (percursão) e Zymon (guitarra, cítara, teclas). A "The Atom Bride Theme", a "I believe" e tantas, tantas outras deliciaram quem lá estava, como sempre. Blasted Mechanism, assim como Mind da Gap (que também fechou na noite anterior) já são bandas habituais nas Noites Ritual, mas também ninguém se farta delas, a adesão continua a ser a mesma, até ver três mil vezes as mesmas bandas no mesmo palco é tradição!
É ainda de realçar a foto projecção de Rita Carmo, a exposição de Esgar Acelerado, a habitual feira alternativa e a novidade Trikke - uma nova forma de desporto e diversão, bem engraçada e fácil.
Como sou comodista e gosto de o ser, pego nas palavras de Adolfo Luxúria Canibal que não poderiam traduzir melhor a minha opinião: "As Noites Ritual Rock conseguem a proeza única de serem, mais do que um mero festival – apesar de tudo sem a inconveniência dos outros festivais, isto é, a poeira, a lama, o arraial pimba das farturas e bifanas a debitar barulho, os mosquitos e outras varejeiras, a incomodidade do campismo selvagem, o lixo –, um encontro urbano de conhecedores e amantes de música, a partilhar descobertas e a desfrutar consagrados."


Terminou, assim, em grande o 15º aniversário deste festival que se realiza anual e consecutivamente na cidade Invicta. Valeu a pena, quem não foi que vá para a próxima, pois a magia das Noites Ritual é imperdível.


P.S.: Eu sei, o post foi longo, mas era impossível descrever as Noites Ritual de forma sintética.

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