Monday, August 28, 2006

Crónica: Noites Ritual Rock 2006

Dia 25:

«15 anos a cumprir o ritual»: reza assim o slogan de um dos mais mediáticos festivais de música nacional do Norte: Noites Ritual. Sim, agora apenas "Noites Ritual", visto que o "rock" ao longo do
s anos tem vindo a decrescer (só vi Noites Ritual Rock no bilhete da Fnac), dando lugar a sons mais electrónicos e, principalmente, ao Hip-Hop. Claro que lamento, mas é mais coerente retirarem a palavra "rock" particularmente este ano, visto que este vocábulo rotula sempre de uma maneira muito intensa um espectáculo. Apesar da ligeira mudança de nome do festival, a sua essência manteve-se: dois dias de música 100% portuguesa. Este ano, celebrou-se, então, o 15º aniversário das Noites e, mantendo-se fiel a tradição, a organização seleccionou mais uma vez alguns dos melhores projectos nacionais e a adesão aos jardins do Palácio de Cristal correspondeu às expectativas.

Pela 7ª vez fui a este festival que me está no coração desde o ano 2000 e valeu a pena como sempre. O cartaz era, sem dúvida, bem mais apelativo dia 26, mas ambos os dias mereceram os seis eurinhos que gastei. O ambiente estava fantástico como sempre, se bem que a segunda noite foi mais concorrida. O desenrolar do festival realizou-se da seguinte maneira: em cada uma das duas noites, seis grupos actuaram alternadamente no palco principal, montado novamente perto do Pavilhão Rosa Mota, e no palco ritual, ou seja, na Concha Acústica (dia 25 a Noite Divergências e dia 26 Represent! Noite Hip Hop). Entre as bandas não há tempo de espera - o que nem sempre é positivo - e há uma espécie de romaria de um palco para o outro. A ambiência do jardim é simplesmente mágica e purificadora, o que beneficia as Noites Ritual.

Eram 9.30 em ponto quando a voz tão característica que todos os anos dá início ao festival soou novamente num espaço enorme, mas quase deserto, nem 30 pessoas deviam estar (isto porque as que estavam eram maioritariamente da organização). Por momentos receei que fosse um autêntico fracasso, até porque quando a primeira banda começou a actuar, ou seja, o Conjunto Contrabando, quase não havia público. No entanto, o grupo composto por 6 músicos começou sem atrasos a sua actuação. Aliando as influências do rock alternativo a passeios por ambientes psicadélicos, aqueceu os presentes e surpreendeu pela positiva. Acabei por descobrir que afinal é possível escrever letras em português, ter uma sonoridade de rock ligeiro e não soar a Ornatos Violeta. Mais um ponto para os Contrabando. Os músicos, particularmente o vocalista, primaram também pela simpatia e simplicidade com que se apresentaram em palco. Nuno Silva (penso que é este o nome do vocalista) apresentou devidamente todas as músicas (pelo que ouvi: "Tem de ser", "Um crime ocorreu", entre outras) e a meio do concerto até comentou: "Afinal está cá gente!". Éramos poucos, mas bons, como se costuma dizer.
De seguida, começou a actuação de Sativa no Palco Principal - oito músicos mais uma espécie de "bobo da corte" (lamento a expressão agressiva, mas era isso mesmo...) que saltitou todo o tempo de um lado para o outro com uma bandeira enorme da Etiópia, que tanto caracteriza esta cultura. O grupo de reggae portuense não tinha lá muitos adeptos do género musical, mas deram um bom espectáculo. A qualidade do seu som é bastante boa, mas é pura e simplesmente reggae, sem inovações quer nas letras, quer na composição do grupo, quer nos instrumentos. O palco ficou colorido pelos tons que compõem a bandeira já referida e palavras como "Jah", "Babylon" e "Jamaica" repetiram-se ad nauseam. Não estará na hora do Reggae inovar em Portugal?

Voltamos para baixo, isto é, para a Concha Acústica, na qual presenciamos o pior concerto da noite (na minha opinião é claro): Cartell 70. As minhas expectativas em relação a esta banda já eram muito baixinhas, mas este concerto deixou-me sem dúvidas. As letras eram fraquíssimas, o som electrónico que supostamente seria uma mistura de reggae com drum'n'bass era do pior, os dois vocalistas totalmente diferentes tinham um ar extremamente pimba e o público, surpreendentemente para mim, lá aderia... Até me admira que bandas tão boas como Blasted Mechanism, Terrakota, e até o poeta americano Ithaka já tenham trabalhado com eles. Simplesmente mais nada a declarar sobre esta "banda".Para compensar a fraca qualidade do grupo anterior, subiram ao palco, desta vez ao principal, visto que já tinham actuado no Palco Ritual em 2002, os Submarine que deram provavelmente o melhor concerto da noite. O pop rock electrónico desta banda convenceu muito mais os presentes, e mais uma vez a simpatia e singeleza dos músicos cativaram. O vocalista Jorge Humberto esteve bem-humorado todo o concerto e apesar de ter sido ao ar livre e no palco maior, foi um espectáculo intimista. Jorge mandou piadinhas sobre as suas próprias sapatilhas de "Floribella" e brincou dizendo que da próxima levava também uma saia como a Flor, a personagem principal dessa telenovela, usa. A interação com o público foi muito boa e a voz, por exemplo, em "About you and me" até me fazia lembrar a de Dave Gahan, talvez também pelo som electrónico. Valeu a pena estar lá de princípio a fim.Houdini Blues terminou a Noite Divergências na Concha Acústica. Como só conhecia o "True life is elsewhere" fui assistir ao concerto muito à deriva e foi mais uma grande surpresa, porque o pouco que conhecia deles nada tinha que ver com o que tocaram. Mesmo assim estiveram bem e o vocalista lá subiu às colunas uma quantidade de vezes a ver se puxava pelas pessoas que se encontravam, como eu, sentadas no relvado, muito relaxadas, provavelmente mais à espera dum som mais acústico e tranquilo do que o de "F de Falso", o seu álbum mais recente.

Para terminar, subiu-se novamente para o palco principal que encerrava o primeiro dia com a presença do trio de Hip-Hop Mind da Gap - composto por Ace, Presto e Serial - à semelhança de 2002. O grupo portuense começou bem, aliás muito bem, com a "Invicta", apesar de ser mais ou menos recente é das melhores músicas que têm, mas terminaram da pior maneira, ou seja, com a "Bazamos ou ficamos". A presença deles, seja em que circunstâncias for, é sempre viva e enérgica e desta vez até levaram duas bailarinas para inovar e dinamizar um pouquinho mais, mas soube a pouco, tanto para as pessoas que já os conhecem desde o início (como eu), assim como para as pessoas que conhecem os álbuns mais recentes: "Os Suspeitos do Costume" e "Edição Ilimitada". Ora iam agradando a uns, ora a outros, mas raramente aos mesmos. Faltou qualquer coisa, mas valeu o esforço.
Estava, deste modo, terminada a primeira noite do festival Noites Ritual, mas a mente já estava no dia seguinte.

(Continuação amanhã)

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