Saturday, December 09, 2006

Linda Martini - Tertúlia Castelense

"O amor é não haver polícia"

Linda Martini apresentam novo álbum

Os Linda Martini rumaram para o grande Porto e apresentaram, dia 12 de Novembro, o primeiro álbum, "Olhos de Mongol", o sucedâneo do EP, no Tertúlia Castelense, na Maia. Depois do concerto em Lisboa, a primeira apresentação pública do CD, no Santiago Alquimista, vieram ao Norte confirmar o que já se previa: um álbum consistente e uma presença em palco plena de energia.

A banda, que já causava burburinho na imprensa e fidelizara um público específico, demonstrou ser um dos grandes alicerces no panorama musical português. No Santiago Alquimista, em Lisboa, a lotação foi esgotada, de certo uma página marcante na curta, mas auspiciosa, carreira do quinteto lisbonense.
No Porto, repetiu-se, de alguma forma, o cenário. O bar não era muito acessível em termos geográficos, mas às onze horas já estava cheio. A decoração do Tertúlia Castelense em harmonia com os tons quentes e acolhedores da sala faz que este bar se distinga da maioria dos locais em que se r
ealizam concertos no grande Porto. No geral, o bar tinha todo um ar requintado e o palco algo teatral, com colunas a lembrar a cultura helénica.
Com apenas vinte minutos de atraso, os Linda Martini entraram em palco. A sua sonoridade é intensa e, por vezes, emocionalmente caótica. A música desta banda de Queluz/Massamá já desde o EP que é algo paradoxal: os riffs são descontrolados controladamente e encantam pelo caos organizado. Sem uma gramática musical predefinida, os Linda Martini arriscam e enveredam por terrenos sonoros marcados por algum experimentalismo (que fazem lembrar Mogwai, Explosions in The Sky, Isis e Cult of Luna). Apesar de não renegarem momentos cantados, com letras em língua materna - curtas, sinceras e directas - dão primazia a um formato maioritariamente instrumental. A língua, neste caso, não parece ser uma barreira, visto que o som é transversal e com um imenso potencial de ser internacionalizado.

A presença em palco foi contagiante e cativou o público, como seria de esperar. Até a humildade e a interacção entre os membros da banda foram aspectos positivos. Hélio Morais é, sem dúvida, um óptimo baterista, que acrescenta nitidamente influências da escola hardcore/punk que também caracterizam a banda. Num concerto de cerca de hora e meia, seguiram o alinhamento de "Olhos de Mongol" e aproveitaram também para relembrar o EP. Destaca-se a utilização de um sample de "FMI", de José Mário Branco, no tema "Partir para ficar", de instrumentos como melódicas e harmónicas que se aliam a dinâmicas de um pós-rock sujo.

Os Linda Martini continuam a divagar por paisagens melancólicas, mas com uma força estonteante. No Tertúlia Castelense, apesar de “Amor combate” ter sido, provavelmente, o tema recebido com mais entusiasmo, até porque muitos já sabiam a letra de cor, "Estuque", "Lição de Voo nr.1", "Cronófago" e "Este Mar" também foram momentos altos.
O único ponto realmente negativo foram as condições de arejamento da sala. Era quase impossível aguentar o ambiente carregado de fumo, que irritava a garganta e, principalmente, os olhos.
O título do álbum "faz referência ao escritor norte-americano Henry Miller que assim descreve a troca de olhares entre perfeitos desconhecidos que, por nenhuma razão além do olhar, estabelecem uma empatia imediata". Foi quase isso mesmo que aconteceu no Tertúlia Castelense, entre a banda e o público.

in JUP, Dezembro 2006

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